Depois de 42 anos da morte de Frei Lucas, seu legado permanece vivo beneficiando a população santare
A morte de Frei Lucas Tupper, frade franciscano que criou a Fundação Esperança, completa 42 anos nesta sexta-feira, 18. Ele morreu aos 45 anos e deixou sua semente plantada no coração de médicos, empresários e profissionais liberais voluntários que mantém viva a missão de transformar vidas na Amazônia.
James Tupper era um jovem oficial, recém-formado em medicina, quando sentiu o chamado para a vida religiosa. Se formou pela Faculdade de Medicina de Wisconsin, aos 26 anos de idade, à época um oficial a bordo do navio quebra-gelo da Marinha dos EUA com destino à Antártida. Em missões militares pela América do Sul, se deparou com a pobreza extrema. Ele era curioso e inquieto e descia em terra firme todas as vezes que o navio atracava ao longo da costa ocidental da América do Sul, visitando hospitais e os lugares mais pobres das cidades.
Depois de cumprir suas obrigações militares, Tupper iniciou sua residência de cirurgia no Centro de Medicina da Universidade de Chicago. O jovem médico desistiu de uma carreira promissora como cirurgião, para seguir a vocação sacerdotal na ordem religiosa franciscana, adotando o Brasil como sua terra de missão.
Durante a preparação para o sacerdócio, Tupper estudou latim e grego no Seminário São José, localizado em Oak Brook, no estado de Illinois. Ele concluiu o curso universitário em Filosofia, e ensinou primeiros socorros a voluntários do Corpo da Paz, em troca de curso intensivo de Português. Em 1968, chegou a Salvador, Bahia, para estudar Teologia. Tratava os enfermos nas favelas com pomadas e comprimidos.
Em 1969, ao visitar Santarém, percebeu a carência das pessoas quanto aos tratamentos de saúde. Conheceu a vida de ribeirinhos, moradores do planalto e das periferias do município. Viajou de comunidade em comunidade de barco, bicicleta, moto, jipe e a pé. Percebeu que muitas mortes poderiam ter sido evitadas com tratamentos simples de saúde. O frade se deparou ainda com a situação de crianças com pés tortos que caminhavam com as laterais de seus tornozelos, deformações devido à má cicatrização dos ossos, lábios leporinos tão deformados que causavam mudez e boa parte da população jovem não tinha dentes, além da desidratação de crianças em um estágio avançado, com infecções intestinais causadas por vermes. Voltou para os Estados Unidos com o coração inquieto, em busca de recursos e decidido a cuidar de vidas. Depois de sua ordenação sacerdotal, em 7 de setembro de 1969, escolheu adotar o nome de Lucas, o apóstolo de Jesus reconhecido como médico. Em 1970, voltou a Santarém e, com ajuda de seus familiares e amigos, realizou trabalhos nas periferias e comunidades rurais que ficavam mais distantes dos recursos médicos, inicialmente com o programa de imunização. A equipe viajava de lancha de uma comunidade para outra. Dentro de cinco meses, cinco mil pessoas foram imunizadas. Depois, devido a dificuldade de deslocamento para prestar assistência em comunidades muito distantes e isoladas, Frei Lucas relatou preocupação para a sede da Esperança Inc., em Phoenix, nos Estados Unidos, organização sem fins lucrativos, criada com o apoio dos familiares do médico. Em dezembro de 1971 o conselho de administração comprou uma balsa seminova que foi transformada em um hospital flutuante, conhecido como "Barco Hospital Esperança". Em outubro de 1972, com ajuda da Igreja Católica de Santarém, na pessoa de Dom Tiago Ryan e de trabalhadores voluntários, foi criada Clínica dos Pobres, hoje conhecida como Clínica Esperança, com a missão de melhorar a condição de vida da população por meio da educação, pesquisa, serviços em saúde, difusão de tecnologia na região amazônica e intercâmbio com outros estados e países.
No ano em que completa 50 anos, a Fundação Esperança é reconhecida pelas ações e projetos sociais que beneficiam milhares de pessoas. Considerada como uma das mais importantes instituições de assistência à saúde da região, é referência em saúde da mulher, da criança, mantendo também atendimentos em diversas especialidades médicas e odontológicas, além de exames laboratoriais e de imagem.
O projeto de Frei Lucas Tupper alcançou também a educação, por meio do Centro de Educação Profissional Esperança - Cepes e do Instituto Esperança de Ensino Superior - Iespes, instituições privadas, sem fins lucrativos que estão comprometidas com o desenvolvimento da região, mantendo uma formação diferenciada, com foco na qualidade, interdisciplinaridade e no ensino empreendedor. Anualmente, as duas unidades abrem editais ofertando bolsas de estudo que garantem formação técnica e superior a centenas de jovens e adultos que se encontram em situação de vulnerabilidade social.